sábado, 16 de outubro de 2010

Nosso rio - a história de um povo!



"Senhor Presidente, tive a oportunidade, por várias vêzes, de trazer ao conhecimento aspectos desolados suscitados pela indústria carbonífera, no Sul de Santa Catarina. Municípios que produzem ou beneficiam carvão, quase nada recebem em troca, pela riqueza oferecida ao país.É lhes vedado, como se sabe, estabelecer qualquer taxa sôbre o carvão produzido ou beneficiado.Do tributo existente, arrecadado pela União, quase nada lhes é destinado, como determina a lei."

O trecho acima foi retirado do livro Democracia e Nação - Discursos Políticos e Literários (Prefácio de Adonias Filho) escrito pelo catarinense Jorge Lacerda e publicado em 1952. O que chama a sua atenção neste trecho do livro?Os acentos hoje não mais existentes em nosso português?Isso poderia ser chamado de um detalhe, o que deveria mesmo chamar atenção é a preocupação já naquela época com o descaso do governo perante a população de nossa região.Era daqui que saia grande parte da riqueza do país, não muito diferente dos dias atuais.O descaso com nossa região pode ser vista desde aquela remota data.

Vou ainda mais além do que a falta de comprometimento no que se diz respeito a distribuição de forma igual as nossas riquezas, o meio ambiente talvez tenha sido o maior prejudicado nisso tudo e consequentemente, nosso povo, vejamos outro trecho do texto que trata deste assunto;

"Senhor presidente, desejo, agora , assinalar os sofrimentos de certa região catarinense, a Madre no município de Tubarão, banhada pelo Rio Tubarão, era famosa pelos seus campos, em que pastavam cerca de 60.000 cabeças de gado.Célebres eram o queijo e manteiga que produzia.O rio, bastante piscoso, fornecia peixe, em tal abundância, que, não só abastecia a localidade, como as regiões vizinhas. A Madre é pràticamente, uma extensa rua, densamente povoada, de cêrca de 17 quilômetros, que perlonga o sinuoso Rio Tubarão.Recordavam-se os moradores , quando lá estive a última vez, os bons tempos que em que lançavam sua tarrafas nas águas do rio , e recolhiam, em quantidade, o peixe que nunca faltou nas mesas mais modestas [...] o próprio rio mudou de nome [...] passou a ser chamado de Rio Seco ou Rio Morto.As pastagens vão desaparecendo.A água potável, a população vai buscar a quilômetros de distância.A água potável ,de antigamente ,se tornou salobra, no fundos dos poços, pela infiltração dos resíduos de carvão.Os peixes sumiram."

Posso afirmar que eu como ex morador da região, presenciei , junto a minha família a degradação do nosso Rio da Madre, lembro da época em que nossa mãe lavava as margens dele, nossas roupas e nosso pai tirava dele parte de nosso sustento.

Aos poucos o nosso rio está morrendo, sobrando dele apenas lembranças daquela época em que se podia nadar em suas águas, pescar e navegar.O governo já naquela época nada fez para que a situação fosse revertida, a poluição tomou conta de forma vagarosa e silenciosa, onde, várias gerações sofreram e continuam sofrendo com o descaso.Naquela década, 50, já se tornou rotineiro o êxodo rural ,hoje, vemos além disso a diminuição da principal característica de nossa região, as propriedades rurais auto sustentáveis.O esgoto a céu aberto em vários locais deve vir por acabar de matar nosso rio, não basta somente manter a limpeza do rio de forma muito geral, ações mais enérgicas e sustentáveis devem ser tomadas, visando salvar o nosso Rio da Madre, que o descaso e falta conscientização o fizeram mudar de nome, Rio Morto.

Rio na década de 60 - eu e meus irmãos tomando banho



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