domingo, 3 de julho de 2011

Entrevista - Ismael Medeiros


Entrevista do Professor da Unisul Ismael Medeiros sobre a bacia hidrográfica do Rio Tubarão ao Jornal Notisul.

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Ismael Medeiros

Há chance de uma enchente em 13 anos

O professor da Unisul Ismael Medeiros integra um estudo sobre a bacia hidrográfica do Rio Tubarão. Ele compartilha seus conhecimentos conosco e ressalta que é necessário tomar alguma atitude.

01 de Julho de 2011 às 23:22min

O professor Ismael Medeiros, 30 anos, dedica parte de seu tempo às pesquisas sobre a bacia hidrográfica do Rio Tubarão. Ele faz parte do Núcleo de Pesquisa em Desastres Naturais (Nuped), que começou as atividades em 2009. Ismael é formado em engenharia civil, com especialização em geotécnia. Também faz mestrado na área pela Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc). Ele é casado com Ana Paula, 30 anos, e tem uma filha, Olívia, 3 anos.

Karen Novochadlo
Tubarão
Notisul - Engenheiros e arquitetos em Tubarão devem ter bastante trabalho. Porque temos muitas áreas de banhado (risos).
Ismael - Nós temos um caso particular, até por causa da localização geográfica: o fundo de um vale. O que historicamente se desenvolveu do município foi a parte plana, que fica inserida sob um solo sedimentar de argila mole. As construções ficam mais caras, por ser solo mal drenado. Isso concomita para alagamentos. Na parte periférica do município, existem as encostas. Nós saímos de alagamento para áreas de deslizamento.
Notisul - Como é o trabalho desenvolvido sobre a bacia hidrográfica do Rio Tubarão?
Ismael - Nós temos o Núcleo de Pesquisa em Desastres Naturais (Nuped) que nasceu de uma necessidade de respostas acadêmica para os eventos climáticos. A nossa última grande inundação foi em 1974. Mas é um processo recorrente. Nossa taxa de retorno é entre cada 50 e 55 anos, ou seja, há probabilidade de acontecerem eventos desta magnitude. Nosso município se encontra em um vale; é praticamente o último antes da foz; é cortado por canal extravasador da bacia, que é o Rio Tubarão. É uma bacia de seis mil metros quadrados. Tudo o que ocorre nela, desde a encosta da Serra Geral, até a foz em Laguna, afeta diretamente a nossa realidade. Inicialmente, estamos estudando, em nosso grupo, as margens do Rio Tubarão ao longo do perímetro urbano para que consigamos enfatizar quais os pontos que são, hoje, os mais problemáticos. O que precisamos entender é onde será o nosso ponto de fragilidade para perda de material e onde será de composição desse material. Tudo isso acaba alterando o fluxo e a dinâmica das águas. Um problemas é que a nossa calha secundária está completamente ocupada.
Notisul - O que seria essa calha secundária?
Ismael - A calha principal é por onde passam os recursos hídricos. Em grandes precipitações, para que não transborde, a água passa pela calha secundária, no caso, as barrancas do rio. Na Guarda Margem Esquerda e Direita, nas duas margens do São João, em São Raimundo, temos problemas com a ocupação indevida dessas margens, áreas de preservação permanente. Isso potencia um extravasamento do rio, porque reduz a velocidade de escoamento. Também temos a questão do Rio da Madre, o famoso Rio Seco, que na verdade é uma continuação do Rio Tubarão, que teve o percurso alterado após a enchente de 1974. Ali é um exemplo de ocupações irregulares, praticamente dentro do canal hídrico. Muitas vezes, o pessoal aterra uma parte que margeia o rio para ganhar mais espaço de terreno.
Notisul - A erosão é um grande problema enfrentado, então?
Ismael - A erodibilidade está relacionada com a saúde do nosso recurso hídrico. Vamos entender que o rio em decorrência do grande processo de erosão, além da supressão da margem, também tem o problema de turbidez da água (água com excesso de sedimentos). Isto reflete na concessionária que abastece a região. Isto tem um custo, encarece o processo de tratamento, diminui a qualidade da água. Um outro detalhe que temos que nos preocupar é quanto às matas ciliares dessas margens. Fala-se muito em mata ciliar, mas não entendemos muito o é que. Historicamente, foram plantadas uma grande quantidade de árvores na beira-rio nos anos 80 e 90. Entendia-se que isso seria benéfico para proteger as margens. Hoje, nós verificamos que é o contrário. São árvores muito altas com enraizamento superficial. Quando há um extravasamento maior, elas são derrubadas e levam uma parte do solo junto.
Notisul - Você comentou que a cada 50 ou 55 anos podem ocorrer novas enchentes.
Ismael - Na realidade, não são novas enchentes, são novo eventos climáticos semelhantes. Nós trabalhamos dentro da ciência com algo que chamamos de período ou taxa de retorno, que é tratamento estatístico que te dá uma previsão de quantos em quantos anos teremos um novo evento com as mesmas condições. Nós tivemos a primeira grande enchente em 1877, depois, tivemos uma outra em 1927. Depois, em 1974. Já se passaram 37 anos. Temos a probabilidade de ocorrência de uma enchente daqui a 13 anos. É estatística. Mas claro que pode ocorrer amanhã ou daqui a 100 anos. Um exemplo que o vale do Itajaí teve uma grande enchente em 1983, que destruiu parte do município. A taxa de retorno no município de um evento daquela magnitude era de 110 anos. Mas, no ano seguinte, teve uma maior. São previsões. Mas é lago que precisamos trabalhar na previsão. Se a taxa de retorno é 50 anos, se passaram 37, o que foi feito?
Notisul - Além da redragagem, quais seriam as outras ações que poderiam ser tomadas para evitar uma nova enchente?
Ismael - Temos que educar a população para que ela saiba se encontra-se em uma área de risco ou não. Em segundo lugar, obras compensatórias. Um exemplo é as bacias de decomposição ao longo do rio para retardar a chegada de água. As bacias são como se fossem grandes buracos para retardar a chegada da água da chuva. Outro exemplo é as pequenas represas, como as PCHs, que geram energia. Essas PCHs foram construídas ao longo do Rio Braço do Norte e Rio Capivari. Por questão de planejamento, não podemos pensar em atividades isoladas. Um outro detalhe é garantir a abertura da Barra do Camacho e a foz de Laguna sempre aberta.
Notisul - Qual a importância da Barra do Camacho nessa questão?
Ismael - Influencia diretamente. A enchente de 1974 só não foi maior porque se abriu a Barra do Camacho. O Rio Tubarão entra nas lagoas de Santo Antônio e de Santa Marta, depois na da Cigana. Essas lagoas são abastecidas pelo complexo lagunar. A foz não é o suficiente para toda essa água. A Barra do Camacho, quando está aberta, funciona como um grande canal extravasador.
Notisul - Hoje, o que a população poderia estar fazendo?
Ismael - Sempre tínhamos a ideia de que os grandes poluidores do Rio Tubarão eram as carboníferas, os suinocultores, os rizicultores, as indústrias, mas nunca “eu”. Em estudos que iniciamos em meados de 2009, para a caracterização dos tipos de solos nas margens do rio, durante um dos ensaios geotécnicos, identificamos que 50% era composto por espuma, que não deveria estar ali. Afinal, analisávamos o solo. Nós pedimos para fazer uma análise química desse material. Para a nossa surpresa, ali tinha detergente e esgoto doméstico.
Ismael por Ismael
Deus: Eixo central do ser humano.
Família: A base de tudo. O alicerce.
Trabalho: Realização.
Passado: O que foi propriamente vivido.
Presente: Minha projeção para o futuro.
Futuro: Aquilo que eu idealizo como resultado de trabalho.
"Uma árvore de grande porte, quando é transportada, vai parar no pilar das pontes centrais. Nenhuma ponte é dimensionada para um excesso de carga horizontal, somente a vertical. Isso é bem visível no momento de cheio, quando vemos uma grande quantidade de galhos e árvores presas nos pilares. Na realidade, elas represam a água. Esse represamento momentâneo pode comprometer um pilar, que não foi dimensionado para uma situação extrema".







www.salveoriodamadre.blogspot.com

4 comentários:

  1. Obrigado pela visita Israel!
    Att,
    Leonildo

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  2. Caro Ismael,
    é difícil apresentar argumentos e defender um projeto cujos resultados e consequências exigem recursos no tempo presente para que não ocorram no tempo futuro. As pessoas, em geral, são imediatistas.
    A idéia de investir recursos hoje para prevenir consequências não desejadas de eventos futuros, é prisioneira de seu próprio sucesso.
    Mas a luta continua! Parabéns.
    Um abraço do
    Pedro Lemos

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